domingo, 11 de outubro de 2009

A CARTA DE PAULO A FILEMOM

É a mais breve carta da coletânea paulina consistindo de 335 palavras no grego original e único exemplar existente de correspondência que pode ser chamada de bilhete. Théo Preiss (Londres, 1954, p. 33-34) chama a atenção à maneira que a carta começa associando a Timóteo com Paulo e associando com Filemom à totalidade da igreja que se reúne em sua casa. Segundo ele esses pormenores significam que o documento é uma epístola. Embora de caráter particular, esta epístola deve ser vista não tanto como uma carta particular de Paulo como indivíduo, mas como uma carta apostólica acerca de uma questão pessoal. Callahan (Estudos teológicos nº1, p.107-108) aponta que o apóstolo não é, falando formalmente, um apóstolo, pois não se refere a si mesmo como apóstolo em parte alguma da carta como faz nas suas correspondências, nem se atribui quaisquer prerrogativas apostólicas. Ele se apresenta e apresenta os outros constituintes da carta como colegas trabalhando juntos no projeto comum do evangelho.

A data mais provável desta carta seja entre 59 e 61 d.c, fazendo parte das correspondências de Paulo na prisão em Roma. Endereçada a Filemom (um homem rico da cidade de Colossos), Áfia (sua esposa, segundo alguns comentaristas) e Arquipo (seu filho, segundo alguns comentaristas), tratando do retorno do escravo Onésimo.

A carta enfatiza a transformação de uma vida. O convertido precisa reparar o erro cometido, se isso for possível. Para Onésimo era possível voltar à casa do seu senhor, portanto devia fazê-lo. Chama-nos a atenção a questão da escravidão. Ao que parece Paulo não condenou tal prática, afinal estava mandando o escravo de volta ao seu dono. Porém Paulo aconselha Filemom a tratar o escravo como um irmão amado, contudo a questão parece não estar resolvida ainda. Ele não usa da autoridade apostólica, ele apela à consciência de Filemom para que o perdoe, ainda que o mantivesse como seu servo. O fato é que o evangelho não é uma metodologia de revolução social, mas de revolução pessoal. A expressão da espiritualidade cristã precisava ser traduzida no perdão: esta é a essência do apelo de Paulo a Filemon. “ele (Onésimo), antes, te foi inútil; atualmente, porém é útil, a ti e a mim” (v.11). As relações mudaram: a utilidade de Onésimo para a igreja era agora maior que para o próprio Filemom. Uma mudança interior de atitude era o que se requeria. Esta mudança interior em Filemom seria mais importante do que qualquer mudança na própria instituição da escravidão.

A petição de Paulo era um pensamento revolucionário em contraste com o tratamento contemporâneo de escravos fugitivos. O pedido ousado que Paulo fez em prol de Onésimo, portanto tem seu caminho cuidadosamente preparado pela sua abordagem de linguagem suave com seus tons de petição, e leva a um apelo à cooperação e consentimento voluntários de Filemom e a promessa de fazer restituição pela dívida que Onésimo tinha incorrido. Para J. Knox (Filemom e a autenticidade de Colossenses, p. 154) Paulo nada diz acerca dos “direitos” de Filemom, no sentido de tirar vingança, nem sequer contempla que Onésimo será castigado. Esta omissão milita contra o conceito que vê uma alusão encoberta a Onésimo em Colossenses 3:25: “pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita”, como se esta seção tivesse em mente o caso de Onésimo e Filemom.

Como documento histórico, a carta lança luz incomum sobre a consciência cristã a respeito da instituição escravidão e Callahan nos mostra que a interpretação da carta a Filemon, como sendo a história dos seus efeitos colonialistas começando com a interpretação imperialista do pregador João Crisóstomo no século IV, como autor que trata Onésimo como um escravo fugitivo, lendo o texto como uma autorização para a escravidão. De acordo com sua exegese, Crisóstomo ilustra que “nós não devemos abandonar ou excluir a raça de escravos” e “que não devemos retirar escravos do serviço de seus senhores”. Nos seus sermões a carta torna-se uma evidência da apologia bíblica da escravidão, interpretação esta que foi amplamente disseminada. O puritano Cotton Mather utilizou-se da leitura pró-escravidão de Crisóstomo aceitando a infelicidade da vida dos escravos e insistindo que esforços deveriam ser feitos para assegurar aos escravos uma vida compensatória de bem-aventuranças no futuro, preparou para eles um catecismo, favoreceu o ensino da leitura da Bíblia sugerindo que eles “decorassem certos versículos particulares das Escrituras onde estavam as várias ordens de Paulo para que os escravos obedecessem a seus senhores. De acordo com Mather, Paulo teria feito de Onésimo um escravo “útil”.

Callahan, como uma alternativa anticolonial, apresenta um relato diferente, é o relato de Paulo, organizador de comunidades de Jesus que faz um apelo à solidariedade em vez de uma afirmação da diferença fundamental entra as pessoas, procurando afirmar, conservar e proteger essa solidariedade que numa palavra é o amor, o tema que unifica a carta. Paulo baseia seus apelos na dívida e não no direito e porque seu relacionamento é de solidariedade e não de reivindicações de direitos, não há momento nenhum de coação. Paulo procura remendar a rede desfiada de solidariedade que une as várias pessoas mencionadas na carta, ele fala dessa solidariedade com a linguagem do amor, fala a linguagem do trabalhador companheiro (sunergos, v, 1, 23), do soldado companheiro (systratiotes, v. 2), do prisioneiro companheiro (synaichmalotos, v.23), a linguagem de colegas e camaradas, a linguagem de ‘irmão amado”.

Bibliografia

CALLAHAN, Allen Dwight, Estudos Teológicos, ano 48, nº 1, p. 101-110, 2008.

CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal. GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.

GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.

- HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida

JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD

KÜMMEL, Werner G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982. pp. 455-458. Por padre José Bortolini, sacerdote Paulino

MARTIN, Ralph P., Colossenses e Filemon, Introdução e comentário, Série Cultura bíblica. Mundo cristão.

PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo Testamento - Ed. Vida.

TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista Regular.



quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Evangelho de Marcos

O autor do Evangelho segundo Marcos era de uma comunidade de camponeses onde existia uma turbulência de poder. Uma comunidade que em sua maioria estava em constantes conflitos, e esta comunidade abriu o caminho para um pensamento que em tese veio do Céu. Todo texto tem uma tradução e tradição, a então comunidade escreve o principio do movimento de Jesus. Sendo assim se criou uma nova etapa na comunidade com o evangelho de Cristo que frisava os pobres.
Os espaços e tempos foram marcados pelos textos que vem surgindo que significa tecidos onde testamos a linguagem humana, vale frisar: que os textos vieram de vivência comunitária, estes textos são denominados textos vivos, devido sua clareza que veio da convivência destes povos. O Evangelho de Marcos dar espaço e tempo aos evangelhos de Mateus e Lucas. Isso quer dizer que, Marcos serviu como fonte para Mateus e Lucas, sendo o Evangelho considerado a ser o mais velho do Novo Testamento.
Quando Marcos nos fala de cruz e corpo, ele quer dizer que esta mesma cruz é relacionada com matar e morrer deste então império romano, ou seja, a cruz é um símbolo de morte para os romanos, mas em seguida após a crucificação de Jesus a mesma cruz passa a ser um símbolo de amor, pois o corpo não podia ser rompido pela cruz. Perpassando por estas vertentes fica claro toda preocupação de Marcos em frisar a cruz como inicio e não o fim de tudo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

ANÁLISE DOS CAFÉS TEOLÓGICOS
O Evangelho de Lucas, na perspectiva de Dr. Ágabo Borges é apresentado em um caráter literário e eclesiológico. Ele inicia sua fala apontando as diferenças entre o Evangelho de Lucas, Mateus e Marcos. O Evangelho de Lucas começa diferentemente dos outros Evangelhos. Ele é colocado numa maneira ordenada e também uma característica especifica: a descrição do método da pesquisa do conteúdo e a apresentação dos fatos que ele narra especificamente, o fato de ser o único Evangelho a ter um endereçado que é o Teófilo, significando “amigo de Deus”.
O Evangelho de Lucas tem uma forma própria de narrar à vida de Jesus. Ele é o único a apresentar Jesus com a riqueza de detalhes desde o nascimento até sua morte. Em Lucas Jesus é apresentado dentro de um contexto no qual vai se desenvolvendo.
O Dr. Ágabo ainda, apresenta o Evangelho de Lucas como o Evangelho dos pobres, onde esses recebem a maior atenção e cuidado da parte de Jesus. O Reino de Deus nesse Evangelho é diferente do Reino de Deus que o Evangelho de Mateus apresenta, pois, é o Evangelho dos pobres que são socialmente rejeitados por uma razão ou outra. O Reino de Deus em Lucas é para as criança e pobres porque são eles que estão na dependência dos outros. O ideal do Reino é a dependência absoluta de Javé. A participação do Reino é a de restauração da vida.

sábado, 6 de junho de 2009

A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
A equipe de Formação do Cânon do Novo Testamento dá continuidade ao seu trabalho de pesquisa trazendo na integra a divisão em tópicos do processo histórico e avaliativo do Cânon Grego-Romano.

Os Documentos de Base:
Segundo os autores pesquisados não há um documento original o qual tenha sido base para os demais escritos no Século I e II d.C, porém, alguns escritos que inclusive fazem parte do Cânon usaram como fonte alguns documentos que se tornaram conhecidos e serviram de fontes para outros escritos da mesma época. Um exemplo disso é o Evangelho segundo Marcos que segundo vários autores tem como fonte informativa o documento Q (Quelle na língua Alemã). Mas o próprio Evangelho de Marcos teria sido utilizado como fonte informativa para os outros dois sinópticos Mateus e Lucas.
Entrando um pouco no mundo dos manuscritos é importante sabermos que eles têm uma grande importância nesse processo de Formação do Cânon do Novo Testamento porque eles eram os escritos que circulavam no momento nas comunidades e foram servindo posteriormente de fontes para vários outros escritos. Lembrando que esses manuscritos foram escritos em papiros e pergaminhos. Os manuscritos considerados mais antigos do Novo Testamento são Vaticanus e o Sinaíticus. Ainda nessa questão dos documentos de base não podemos deixar de fora as traduções, onde algumas são mais antigas do que muitos manuscritos gregos. Também as citações que eram tidas como terceiro grupo de documentos e eram feitas pelos Pais da Igreja em ocasiões especiais.

Formação do Cânon do Novo Testamento:
A palavra Cânon tem vários significados: padrão, diretriz, regra, vara de medir. Devido a isso a palavra Cânon passa a ter um peso significativo no processo de seleção dos escritos dos Séculos I e II d.C. Lembrando que estamos falando do Cânon grego-Romano. A partir da fala de Gerd Theíssen, o Novo Testamento é o resultado de um processo em três fases: comunicação oral; as tradições orais estão presentes nas perícopes dos evangelhos. Os primeiros escritos cristãos, Cartas Paulinas e o documento Q têm suas fases na comunicação oral. Na segunda fase ele (Gerd T.) aborda a comunidade literária fechada. O período de 70 a 120 é o momento que surgem à maioria dos escritos do Novo Testamento, porém, são restritos as suas comunidades de forma fechada ou particular. Na terceira fase há um destaque para as comunidades literárias em processo de abertura. É nesse momento que os vários escritos saem do ambiente de suas comunidades para os demais públicos.
A primeira necessidade do fechamento de um Cânon foi exatamente o fato de ter muitos escritos em circulação, no entanto, tinha que haver uma seleção desses escritos. Mas o que acelerou esse processo foi a Formação do Cânon de Marcião, que continha apenas o Evangelho segundo Lucas e dez Cartas Paulinas. Isso levou a Igreja a acelerar o processo seletivo do Cânon, haja visto, que Marcião tinha influências gnósticas e não era bem visto pela Igreja.
Quanto ao local de Formação de Cânon Roma é indicado como berço desse processo acompanhado das tradições da Ásia Menor, sendo que Síria e Palestina berços dos cristianismos ficam de fora nesse processo, que é formado não por adição, mas por eliminação. Todo esse processo teve sua delimitação total a partir da decisão tomada pelos Bispos da Igreja antiga, em sua pastoral comemorativa da Páscoa do ano 367 d.C. que ocasionou na confirmação e aceitação dos 27 livros canônicos pelos sínodos de Hippona (395) e Cartago (397).

Os Escritos do Novo Testamento:
Falando panoramicamente sobre os escritos do Novo Testamento iniciaremos pelos escritos narrativos ou Os Evangelhos. Quanto à palavra “Evangelho” em grego “Euaggélion” que tem o significado “profano”, porém, para Homero e Plutarco a palavra significava uma recompensa dada ao mensageiro pela sua mensagem. Entre os cristãos primitivos a palavra tem o significado de Boa Nova da Salvação em Jesus Cristo anunciada oralmente pelos apóstolos.
Por volta de 150 d.C, o termo evangelho chegou a designar os escritos do Novo Testamento que precisamente conta a Vida terrena de Jesus Cristo. Assim, temos os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Esses evangelhos formam um gênero literário a parte que tem como finalidade testemunhar acerca de Jesus Cristo “Filho de Deus” e salvador do mundo e dos homens.
O problema de ordem teológica que surge nesse tipo de literatura é a repetição de fatos ocorridos no movimento de Jesus Cristo que é denominado de problema sinóptico, pois, sempre vai surgir uma pergunta, porque não juntar os mesmos fatos em um só evangelho? Apesar das proximidades entre os evangelhos ainda existem diferenças, por exemplo, enquanto Mateus e Lucas começam com a infância de Jesus, Marcos começa com o ministério de Jesus, deixando de fora a infância de Jesus. Diante de tudo isso surgem várias hipóteses no que dizem respeito à formação desse conjunto literário as quais não entraremos em detalhes.
Gostaríamos de fazer de forma sintética um destaque da literatura sinóptica para a literatura Joanina, sabendo que essa se distancia bastante dos demais evangelhos, por esse motivo não é chamado de sinóptico. É diferente dos sinópticos não somente pelo quadro cronológico e pelo plano geográfico, mas por perspectivas teológicas diferentes. Neste evangelho, Jesus Cristo é ao mesmo tempo humano e divino, é o logos (Palavra), verbo de Deus, mas também logos encarnado, o verbo feito carne (João 1.14).
De forma cronológica não podemos deixar de fazer uma pequena apresentação da segunda parte da literatura Lucana conhecida como Atos dos Apóstolos, que segundo alguns autores pesquisados o seu conteúdo tem um destaque na vida dos apóstolos Pedro e Paulo, pouco se fala dos demais apóstolos, até onde se sabe Lucas e Atos dos Apóstolos formam dois volumes de uma só obra. Os Atos dos Apóstolos tem como objetivo apresentar a obra do Espírito Santo e a expansão dos Cristianismos através das comunidades primitivas.

Corpus Paulinum:
Devido a um trabalho de pesquisa que está sendo apresentado no STBNe, não vamos entrar em detalhes sobre a literatura paulina, fazemos aqui uma recomendação de leitura sobre esse assunto visitando
www.corpuspaulinum.blogspot.com, pois, há um ótimo trabalho por parte de uma das equipes da disciplina do Novo Testamento I.

A Carta aos Hebreus:
Se trata de uma epístola anônima, embora por muito tempo foi considerada pela Igreja do Oriente e do Ocidente como escrito Paulino, não se trata propriamente dito de uma epístola, mas antes de uma exposição doutrinal ou de uma prédica, cujo o tema central é o sacerdócio de Cristo.

As Epístolas Católicas:
São sete os escritos reunidos chamados de Epístolas Católicas: A Carta de Tiago, I e II Cartas de Pedro, I, II e III Cartas de João e a Carta de Judas. Há pouca semelhança entre elas e o motivo de estarem juntas é uma provável questão cronológica na arrumação dos livros até porque elas não fazem parte do Corpus Paulinum. Elas foram denominadas de Cartas Católicas pouca antes do século III d.C, embora não todas a princípio. Somente no século IV a denominação designa todo grupo, impõe-se definitivamente, com o historiador da Igreja Eusébio de Cesaréia e com Jerônimo o tradutor da Bíblia para o latim.
O significado original do nome Católica é desconhecido e geralmente se aplica a expressão “Universal” que vem da palavra grega “Katholikos”. Esta explicação deve valer para a carta de Tiago, I e II cartas de Pedro, a carta de Judas e para a I carta de João, já para a II e III cartas de João não vale, devido não ter sentido universal, mas sim pessoal.

Apocalipse:
No decorrer desta pesquisa percebemos que toda literatura é fruto de um movimento e a literatura apocalíptica provavelmente é a que mais esboça essa característica. Entendendo com isso que o movimento apocalíptico foi um forte movimento na Antigüidade e nesse movimento a linguagem era incrementada de simbologias como forma de comunicação mais propriamente dita da própria comunidade.
Os apocalipses eram um gênero literário tradicional do judaísmo. O autor, no entanto, serve-se, porém, de elementos litúrgicos do culto das comunidades primitivas para escrever os eventos futuros, que aconteceram na esfera celeste. Quanto à data, temos o testemunho de Ireneu do século II. De acordo com esse o apocalipse foi escrito no final do reinado de Domiciano no ano 96 durante a perseguição generalizada que este então dirigia contra os cristãos, que se recusavam a render culto ao imperador como se fosse um deus. Essa literatura é atual quando proclama a importância cósmica da obra redentora do reino de Cristo e a esperança de uma nova criação.

A História dos textos impresso:
Na realidade após a descoberta da arte da impressão de livros por Johannes Gutenberg, foi impresso inicialmente apenas a Vulgata, que foi a primeira edição do Novo Testamento grego sendo preparada na Espanha, e assim chamada de Complutense Poliglota, esse grande empreendimento foi inicializado pelo cardeal Ximenes, que na realidade abrangia todo o Novo Testamento, ou seja, o texto do Novo Testamento grego estava concluído em 1514, sendo em 1515 a primeira edição do Novo Testamento grego a ser elaborada. Vale destacar que foi a Bíblia que Ximenes publicou. Entre o Novo Testamento, esteve os primeiros livros impressos, uma vez que duas primeiras edições do grego é devida á iniciativa do então cardeal Ximenes, arcebispo de Toledo, que veio a falecer em 1517, que por sua vez fez imprimir em alcala uma Bíblia poliglota.
No começo do século XX aparecem edições que se aplicam um então método critico, o qual presta contas a história do texto e das relações das diversas famílias de manuscritos entre si. Esses textos tiveram algumas datas no momento de sua preparação Simon, (1712), Bengel, (1752), e wettstein, (1754). A edição mais completa até hoje continua sendo aquela de Tischendorf.


Bibliografias:
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento/ São Leopoldo: Sinodal, 2001
THEISSEN, Gerd. O Novo Testamento/ tradução do Carlos Almeida Pereira. – Petrópolis, RJ, Vozes 2007
KUMMEL, Werner George, Introdução ao Novo Testamento/ Tradução Paulo Feine – São Paulo: Paulinas, 1982
A Revista Rebla, A Canonização dos Escritos Apostólicos/Diversos autores, 42ª edição, Vozes, RJ 2002
KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento, volume II: Tradução Euclides Luiz Calloni – São Paulo; Paulus 2005
SCHREINER, Josef e DAUTZENBERG G. Forma e exigências do Novo Testamento/tradução Benône Lemos – São Paulo, Teológica 2004
LOHSE, Eduard, Introdução ao Novo Testamento, Editora Sinodal.



quinta-feira, 14 de maio de 2009

A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

A Bíblia não é um livro caído do céu, um código sagrado ou uma declaração doutrinal de fé. É a suma das experiências e dos encontros, que as pessoas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento tiveram com Deus. O fato de que essas experiências tenham sido ordenadas, reformadas e algumas delas rejeitadas não levam a ser ignoradas.
Mas seja qual for à história das escrituras ou a formação do Cânon, a essência da Bíblia é o testemunho de experiências e encontros. Esses encontros e seus relatos são expressões que aconteceram enquanto história, em determinadas geografias, e traduzem vivências culturais definidas. Mas não são diretamente acessíveis à nossa própria experiência, por correspondência formal.
No tocante a isso, temos como objetivo discorrer neste texto um pouco da história de formação do Cânon neo-testamentário, sabendo inicialmente que a literatura contemporânea do Novo Testamento foi algo muito vasto. Porém sintetizada pelo Cânon do Novo Testamento.
O Novo Testamento não somente foi à regra de fé dos cristãos, não somente inspirou e ainda inspira vidas heróicas, célebres ou desconhecidas, como também determinou civilizações inteiras em sua ética individual e social por meio da sua literatura e de sua arte.
Sem contar o fato de que o Novo Testamento é a confirmação de uma nova aliança de Jahwe com o povo, fazendo de certa forma uma reprodução da antiga aliança, ou seja, do Antigo Testamento. E uma prova disso é o próprio movimento de Jesus o qual se repete todos os acontecimentos dos movimentos antiquotestamentários principalmente os proféticos.
Com isso entendermos que o Novo Testamento nos traz a principal revelação de uma grande conquista de Jahwe que foi trazer de volta o relacionamento do criador com a criatura o qual foi quebrado lá no Éden e tudo isso, claro através da graça que só o Novo Testamento revela.
Ao falar do Cânon do Novo Testamento, encontramos um texto não tão claro, sem nos darmos conta da diversidade e complexidade dos documentos que o formam e das dificuldades vencidas, mas é falar também do desafio de que não temos documentos originais e um espaço de 300 anos separando a redação original da conservada e, portanto isso poderia fazer-nos duvidar da sua autenticidade.
Segundo Oscar Cullman as condições de transmissão do texto não são desfavoráveis e não poderiam justificar um ceticismo por parte dos historiadores, porém é a avaliação da distância que separa a redação dos escritos do Novo Testamento dos acontecimentos que eles testemunham (p.7)
Alguns problemas devem ser levantados: Uma questão relevante é a questão hermenêutica, a questão da critica, (seja ela qual for) e a visão de conjunto, a fim de que nenhuma critica seja de forma exclusiva de interpretação. Diante disso, como se dá o entendimento da inspiração, inerrãncia e revelação? Já que alguns sustentam como piedosa, crença teológica sem nenhum valor, descartada completamente, somente com uma inerrãncia teológica limitada, sua revelação ocupando uma posição singular de Deus aos seres humanos que afeta sua vida e destino.
Como se dá o entendimento dos evangelhos já que há quatro evangelhos e sua pluralidade cria por sua vez um problema de ordem teológica e literária, formando o problema sinótico, (Mateus, Marcos, Lucas)? Como explicar seu parentesco e as divergências entre eles?
Para Brown em uma conclusão realista seria que nenhuma solução para o problema sinótico resolve todas as dificuldades. Autores modernos, cujos livros exigem pesquisa e que tentam a varias décadas a tarefa de reconstruir precisamente como eles juntaram suas fontes ao escrever aqueles livros, serão condescendentes com a nossa inabilidade em reconstruir precisamente o modo segundo o qual os evangelistas procederam 1900 anos atrás. O processo foi provavelmente mais complexo do que a mais complicada reconstrução moderna (2004, pg.191)
Considerando que a formação Canônica foi fruto de um processo de séculos e o fator decisivo foi à idéia do Cânon sentida na sua necessidade da então igreja, submetendo á tradição apostólica que exposta teria, valor canônico, mas em que consiste esta linha teológica que por sua vez une estas obras e nos autoriza a falar de um pensamento do Novo Testamento.
Os livros e escritos cristãos deveriam ser escassos e raros, e a memória dos crentes era submetida a um esforço fora do comum. É neste contexto cultural de escassez de material literário que procuramos levantar uma discussão em torno da composição do cânon do Novo Testamento, com o desafio de imaginar a origem de uma literatura cristã visando à consideração do processo de seleção que produziu os escritos canônicos.
Por serem abertos, os escritos se permitem e submetem a serem vistos e analisados sob diversos olhares; olhar cristão, o acadêmico e principalmente o olhar teológico. Por tanto, cerca de 300 anos separam a redação original dos textos conservados. Isso passa a ser um problema por que dá margem às dúvidas quanto à autenticidade dos textos. Então, se o que temos em mãos é apenas cópias de cópias, logo somos impelidos a pensar na possibilidade de deformações, distorções e, por que não dizer; erros redacionais que diferenciam os textos antigos dos textos que temos acesso.
São muitos os autores que tentam delimitar a palavra cânon, chegando quase sempre ao mesmo denominador: é de origem grega e seu significado mais comum é (cana ou régua), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, que aparece no Antigo Testamento significando “vara ou cana de medir”. O termo cânon era empregado no Novo Testamento objetivando fazer referência a um padrão ou regra de conduta para aquelas comunidades que fariam uso destas escrituras. Seguindo esta regra, tudo o mais dentro das comunidades seriam julgados, isso de acordo com o conceito de um sentido ativo do termo cânon e sua validade social dentro das tais comunidades para as quais seria destinado.
A formação do Novo Testamento, diferentemente do que muitas pessoas pensam que envolve o surgimento e a preservação de livros compostos pelos seguidores de Jesus, foi algo sistemático e complexo. É notório que o caráter apostólico exerceu grande influência sobre a escolha dos textos canônicos. Helmut Koester, em seu livro “Introdução ao Novo Testamento” escreve que nos séculos II e III, alguns nomes de apóstolos ou de discípulos de Jesus foram amplamente empregados para dar autoridade e legitimidade a diversos escritos como a formação do conceito de apostolicidade, que se tornou fundamental para o cânon do Novo Testamento, aconteceu nas controvérsias constantes com as seitas gnósticas, pode-se presumir que foi exatamente o apelo gnóstico à autoridade apostólica que introduziu os Padres da Igreja a enfatizarem por sua vez a apostolicidade teve papel muito secundário na inclusão dos escritos no cânon do Novo Testamento.
Cada época e cada igreja são tentadas a fazer uma escolha e a considerar como essencial àquilo que corresponde às suas próprias necessidades, portanto, muitos livros não são preservados em sua forma original, daí então a concepção de que temos apenas cópias de cópias. O processo de seleção dos livros canônicos não foi uma escolha individual, mas, um reconhecimento feito coletivamente pela igreja. Vale lembrar que mesmo antes destes, serem aceitos no cânon, alguns livros já eram usados nas assembléias dos cultos.
Antes do último apóstolo, ou seja, a última testemunha ocular morrer, já havia alguns escritos acerca de Jesus e até mesmo um evangelho inteiro; o evangelho de Marcos. Muitas tradições já existiam sob a forma oral ou escrita, isso nos leva a pensar que Marcos teria usado os escritos já existentes para a formação de seu Evangelho.
A formação do cânon exigiu uma série de cuidados. E vários critérios foram empregados na escolha dos escritos. Como por exemplo: apostolicidade, circulação, uso e outros. O resultado final deste trabalho foi o fruto de um processo que se estendeu por vários séculos.
Diante desses fatos que foram descritos até agora, o leitor pode estar se perguntando, será que há confiabilidade nos escritos neo-testamentários depois de conhecermos as principais rotas da sua formação literária com todos os pormenores? Portanto, é necessário que haja neste conteúdo, é claro, algo que responda os questionamentos surgido no decorrer dessa leitura. Por isso, iniciaremos falando da confirmação da compilação oficial dos livros canônicos que evidência-se de várias maneiras. Logo após a era dos apóstolos, ver-se nos escritos dos primeiros pais da Igreja o reconhecimento da inspiração de todos os 27 livros do Novo Testamento.
Em apoio ao testemunho dos apóstolos temos as antigas versões, as listas canônicas e os pronunciamentos dos concílios eclesiásticos. Todos juntos constituem elo de reconhecimento desde a concepção do Cânon nos dias dos apóstolos, até a confirmação irrevogável da Igreja Universal, em fins do século IV. Não deixando de falar do testemunho dos Pais da Igreja sobre o Cânon. Por parte deles os livros do Novo Testamento sempre foram citados como dotados de autoridade, por sinal, dentro de 200 anos depois de século I quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos Pais da Igreja.
Outros fatores que são importantes na fundamentação dos escritos neo-testamentários são as listas primitivas e as traduções do Cânon. A harmonia geral entre esses elementos e o nosso Cânon é extraordinária e de grande importância, lembrando que é desnecessário entrar nos detalhes principalmente das traduções. Porém, lembrando mais uma vez os nomes das mesmas, antiga Siríaca, antiga Latina, Cânon Muratório, Codice Borococio, Eusébio de Cesaréia, Atanásio de Alexandria etc.
Ainda explorando o contexto documentário na perspectiva de fundamentação dos escritos neotestamentários, encontramos informações sobre os papiros extra-bíblicos, os Óstracos, as inscrições e os lecionários. Os Papiros extra-bíblicos são suplementares e trazem mais esclarecimento ao texto do Novo Testamento e fazem parte de um grupo de livros não-canônico denominado “Logia de Jesus” que significa “dizeres de Jesus”.
Os Óstracos são cacos de cerâmicas freqüentemente utilizadas como material de escrita entre as classes mais pobres de Antigüidade e eram conhecidos como a “Bíblia dos Pobres”.
As inscrições: a larga distribuição e a grande variedade de inscrições antigas não só atestam a existência dos textos bíblicos na época, mais também a importância deles. Há abundantes gravações em paredes, pilares, moedas, monumentos e outros lugares que têm sido preservados como testemunhas do texto do Novo Testamento
Os Lecionários são outros testemunhos super valorizados dos textos do Novo Testamento porque eram livros usados no culto da Igreja que continham textos selecionados para as leituras tirados da própria Bíblia sabendo que são bem posteriores aos escritos bíblicos.
Diante desses detalhes mencionados sobre a fundamentação ou veracidade do conteúdo neo-testamentário, fecharemos esse assunto falando de um aspecto que é fundamental para a idéia em questão. A inspiração foi o ponto de partida para a escolha dos escritos que formaram o Cânon Sagrado, é claro, diante de outros pré-requisitos como, por exemplo, a questão apostólica. Os apóstolos e profetas do Novo Testamento não hesitaram em classificar seus escritos como inspirados, ao lado do Antigo Testamento. Seus livros eram respeitados, colecionados e circulavam na Igreja Primitiva como Escritura Sagrada, o que Jesus declarou ser inspiração a respeito do Antigo Testamento o Senhor prometeu quanto ao Novo Testamento.
Jesus nunca escreveu um livro, no entanto endossou autoridade do Antigo Testamento e a promessa de inspiração para o Novo Testamento. No próprio texto dos livros do Novo Testamento, há inúmeros indícios de sua autoridade divina. São eles explícitos e implícitos. Como, por exemplo, os evangelhos que apresentam-se como registros autorizados do cumprimento das profecias do Antigo Testamento a respeito de Cristo. Isso não é presenciado só nos evangelhos, mas em todo restante dos escritos, principalmente no “Corpus Paulinum”. Portanto, a maior riqueza do Cânon neo-testamentário é o fato de que tudo aquilo que são pontos de dúvidas e questionamentos sobre ele, ao mesmo tempo serve de base para sua aprovação e comprovação.





BIBLIGRAFIA:
GEISLER, Norman: Introdução Bíblica,
NIX, William. Introdução Bíblica, 1997 Editora Vida. SP
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento; Editora Paulinas; 2004, SP
MOULE, Charles Francis Digby. As Origens do Novo Testamento; Editora Paulinas; 1979, SP
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento; Editora Sinodal; 2001; São Leopoldo
KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento; Vol. I; Editora Paulus; 2005; SP
KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento.